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#3 Newsletter Meu Staff

Sobre calendários e a covardia


Vou começar essa newsletter utilizando uma técnica de escrita para despertar a sua imaginação.


Eu estou agora sentado na sala do meu apartamento, com o notebook sobre a mesa. À minha frente está o sofá e, em seguida, a minha TV. Meu cachorro, o Sushi, deitado do meu lado.


Imaginou a cena? Agora, vamos usar este estímulo criativo para que você realmente entre nos próximos parágrafos.


Você foi diagnosticado com um câncer terminal! Inoperável e, segundo as estimativas, resta apenas alguns meses de vida. Para a sua “sorte”, o câncer trará a morte mas te deixará com boa qualidade de vida nestes seus últimos meses.


Imagine estar na sala de um oncologista recebendo esta notícia neste exato momento.


Eu sempre me julguei ser uma pessoa racional. Não racional no sentido de alguém que controla as emoções em demasia. Na verdade, não há nada mais distante de mim. E sempre achei muito interessante a forma como o fim de ano mexe com as pessoas.


Em termos físicos, é somente um pequeno planeta dando mais uma volta em torno de uma  pequena estrela, dentre trilhões de outras. Mas em um dado momento alguém que não tinha o que fazer resolveu começar a contar os dias, as fases da lua, o movimento da terra…


E a partir daí tudo começou a dar errado. Criou-se o calendário, meses, dias da semana, a segunda-feira, os prazos, o trabalho em horário comercial… e é culpa deste desocupado o fato de que hoje a nossa geração anseia pela sexta-feira e entra em depressão na segunda. O nosso calendário gregoriano poderia ser melhor.


Mas se não podemos mudar o calendário do mundo, o nosso dá! Mas, é preciso coragem e nós somos filhos de covardes!


Não, não estou xingando seus pais. Yuval Noah Arari descreve um pensamento que eu acho que faz muito sentido trazer para os dias atuais. Lá na pré-história a covardia e falsidade eram mecanismos protetores. O primeiro a sair da caverna geralmente era o que morria. Os primeiros a se lançarem nas grandes navegações, morriam. Os que iam às guerras, morriam…


A história puniu os corajosos e talvez o nosso descendente comum seja alguém covarde e manipulador que ficava esperando alguém tomar a dianteira.


O bom desta história é que isso não faz mais sentido nos dias atuais. O que chamamos de risco chega a ser ridículo perto do que a história nos mostra.


Eu também tento ser uma pessoa coerente. Fazer aquilo que falo. E muitas vezes falo que mais importante que sabermos o que queremos é saber o que não queremos. Alguns anos atrás (vários anos, mas vou deixar vocês achando que sou jovem), eu estava trabalhando no interior da Bahia. Ganhando uma boa grana mas totalmente infeliz. Aquela coisa do anseio pela sexta e depressão na segunda estavam me destruindo.


Não conto as vezes que dirigi até lá chorando, me sentindo incompetente e, principalmente, covarde! Covarde por não ter coragem de sair de lá. Covarde por não mandar todo mundo pra puta que pariu mesmo com quatro meses de salário atrasado.


É, meus amigos, somos escravos de tudo aquilo que não conseguimos abrir mão. E o que me deixa ainda mais puto é saber, hoje, as coisas que me escravizavam. Ficar infeliz durante toda a semana para ter um carro melhor, comer em restaurantes melhores…eu era medíocre.


Tomei uma decisão na minha vida que me guia até hoje. Sempre que o medo for o motivo que esteja me impedindo de fazer alguma coisa, eu ignoro e faço. Nunca mais deixarei o medo me limitar. E, olha, acho que você deveria fazer o mesmo agora que foi diagnosticado com um câncer terminal.


Se eu pudesse definir o conceito de medo definiria dizendo que é o fator que te mantém na vida que tem e distancia da vida que quer. E todos somos assim. Todos temos um espaço entre a vida que temos e a vida que desejamos. Alguns mais, outros menos, mas todos temos.


E sabe o que é legal de ser diagnosticado com um câncer? Você finalmente percebe o que é importante. É alguém te dando a consciência de que a vida é finita. Que os meses que você não daria importância tornaram-se agora os mais importantes da sua vida.


Esqueça esta coisa de datas! Não espere um ano novo! Beba! Beija na boca! Muda de emprego! Começa uma dieta na segunda e come um bolo na quarta! Manda mensagem falando que ama! Se não for correspondido, chora! Bebe mais! Tenha sangue!


E vou repetir uma frase que gosto muito para não cometer o erro de ser mal compreendido:


Isto não é uma apologia a você se tornar totalmente irresponsável com sua saúde ou com os próximos a você, mas uma apologia a não vivermos uma vida alheia sem perceber o valor da nossa.


Não espere para viver quando descobrir que está morrendo, afinal, já estamos.


O que estou querendo dizer, se é que estou dizendo alguma coisa, é feliz ano novo. Não pelo calendário, mas por você! Boas festas.


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