📋 Introdução
A luxação de ombro é uma das emergências ortopédicas mais comuns no pronto socorro, podendo ocorrer em pacientes de qualquer faixa etária após traumas de baixa ou média energia. A capacidade de realizar a redução no próprio serviço de emergência evita encaminhamentos desnecessários e proporciona alívio imediato ao paciente.
F.A.R.E.S.
Fast, Reliable And Safe
Rápida, Confiável e Segura
A técnica FARES é amplamente utilizada nos departamentos de emergência por sua eficácia, simplicidade e segurança, sendo uma habilidade essencial para médicos emergencistas.
🎯 Epidemiologia e Características
💡 Ponto Importante
Mais de 80% das luxações de ombro são anteriores, sendo estas as principais candidatas para a técnica FARES.
Apresentação Clínica Típica
- Dor intensa no ombro após trauma (queda, movimento brusco)
- Limitação importante da movimentação
- Deformidade visível à inspeção
- Paciente mantém o membro em posição antálgica
Luxação Posterior
Embora a técnica FARES tenha sido descrita originalmente para luxações anteriores, já existem relatos de sucesso em luxações posteriores. No entanto, estas são bem mais raras, representando menos de 20% dos casos.
✅ Indicações
| Situação |
Pode Aplicar? |
| Luxação anterior de ombro |
✓ SIM |
| Luxação posterior de ombro |
✓ SIM (com experiência) |
| Fratura em 1 ponto do úmero proximal |
✓ SIM (com cautela) |
| Paciente consciente e colaborativo |
✓ SIM |
✓ Vantagem Principal
A técnica FARES não requer sedação ou analgesia obrigatória, podendo ser realizada com o paciente consciente e colaborativo, o que aumenta significativamente a segurança do procedimento.
🚫 Contraindicações
⚠️ CONTRAINDICAÇÕES ABSOLUTAS
Não realizar a técnica FARES nas seguintes situações:
| Contraindicação |
Motivo |
| Fraturas em ≥2 pontos do úmero proximal |
Risco aumentado de lesões neurovasculares e deslocamento de fragmentos |
| Luxação com >24 horas |
Maior dificuldade técnica, maior risco de complicações, geralmente requer sedação |
| Paciente intoxicado ou rebaixado |
Impossibilidade de avaliar sensibilidade, dor e colaborar com a manobra |
| TCE associado com rebaixamento |
Incapacidade de fornecer feedback adequado durante o procedimento |
⚠️ Atenção
Estes critérios foram estabelecidos no trabalho original que descreveu a técnica. Em caso de dúvida, considere encaminhamento para serviço especializado ou utilize outras técnicas de redução.
🔍 Avaliação Pré-Redução
Antes de iniciar qualquer tentativa de redução, é fundamental realizar uma avaliação neurovascular completa:
- Palpar pulso radial - verificar perfusão distal
- Testar sensibilidade - avaliar dermátomos do membro
- Avaliar motricidade - movimentação dos dedos e punho
- Solicitar radiografia - confirmar luxação e descartar fraturas complexas
💡 Comparação com Suturas
Assim como antes de suturar um ferimento você avalia sensibilidade e motricidade distal, o mesmo princípio se aplica antes de reduzir uma luxação. Documente sempre os achados!
📝 Passo a Passo da Técnica FARES
1
Posicionamento do Paciente
Coloque o paciente em decúbito dorsal com o corpo completamente horizontal (remova travesseiros). O paciente deve estar confortável e relaxado.
2
Posição Inicial do Membro
O braço afetado deve estar paralelo ao corpo, em posição neutra. A mão do paciente deve ficar em pronação leve, ou seja, "em pé", paralela ao corpo (como se fosse dar um cumprimento).
3
Tração e Massagem
Com sua mão direita (se for destro), segure o pulso do paciente e aplique uma tração suave e constante. Não é necessário força excessiva. Com a outra mão, massageie o deltoide, bíceps e ombro para promover relaxamento muscular.
⚠️ Ponto Crítico
A tração deve ser mantida durante TODA a manobra. É esse movimento constante que facilita a redução.
4
Movimentos de Abdução
Inicie movimentos verticais suaves de cima para baixo (aproximadamente 1 movimento por segundo) enquanto gradualmente abduz o braço (abrindo-o lateralmente em direção aos 90°). Continue tracionando durante todo o processo.
5
Rotação Externa aos 90°
Quando o braço atingir 90° de abdução, realize uma rotação externa do antebraço: gire a mão de modo que a palma fique voltada para cima. Continue os movimentos verticais e a tração.
6
Elevação Final e Redução
Continue abduzindo o braço além dos 90°. Quando chegar próximo aos 180° (braço totalmente elevado), aplique uma tração mais firme e aduz o braço em direção à cabeça (jogando-o para dentro). Neste momento, geralmente ocorre a redução com um "clique" audível.
✓ Sinal de Sucesso
Você ouvirá/sentirá um estalo (clique) no momento da redução, e o paciente imediatamente relatará alívio da dor e recuperação da amplitude de movimento.
⚡ Pontos de Atenção Durante a Manobra
💡 Comunicação com o Paciente
Durante toda a manobra, mantenha diálogo constante com o paciente. Pergunte sobre o nível de dor e desconforto. O paciente consciente é seu melhor guia para evitar lesões iatrogênicas.
Detalhes Técnicos Importantes:
- A força necessária é mínima - técnica depende mais de movimentos corretos que de força bruta
- Não apresse os movimentos - pacientes diferentes podem levar tempos diferentes
- Mantenha a tração constante, inclinando seu corpo para trás se necessário
- A pronação inicial da mão é crucial para o sucesso da técnica
- O "clique" de redução geralmente ocorre no movimento final de adução
✅ Avaliação Pós-Redução
Após a redução bem-sucedida:
- Reavalie pulso, sensibilidade e motricidade
- Solicite radiografia de controle para confirmar redução adequada
- Imobilize o membro com tipoia
- Oriente repouso e acompanhamento ortopédico
- Prescreva analgesia conforme necessário
⚠️ Em Caso de Insucesso
Se após tentativa adequada a redução não ocorrer, não insista. Encaminhe para ortopedista ou considere sedação e outras técnicas. A tentativa da técnica FARES não causa danos ao paciente quando realizada corretamente.
🎯 Mensagens Finais
- A técnica FARES é simples, rápida e segura quando realizada corretamente
- Não requer sedação obrigatória, mas pode ser utilizada se disponível
- Taxa de sucesso elevada nas luxações anteriores recentes
- Pratique sempre que possível - a experiência aumenta a confiança e eficácia
- Respeite as contraindicações - segurança do paciente em primeiro lugar
- Documente sempre a avaliação neurovascular antes e após o procedimento
- Se não se sentir seguro inicialmente, evite casos com fraturas até ganhar experiência
📚 Quando Encaminhar
| Situação |
Conduta |
| Presença de contraindicações |
Encaminhar para ortopedia |
| Falha na redução após tentativa adequada |
Considerar sedação ou encaminhar |
| Lesão neurovascular evidente |
Encaminhamento urgente |
| Fraturas complexas associadas |
Avaliação ortopédica necessária |
🎥 Vídeo Demonstrativo da Técnica
Assista à demonstração completa da técnica FARES em ação: